Contando experiências de vida em poesia e qualquer manifestação de arte!!!!!!!







15 de mai. de 2011

O Curumim

Brincando o menino cresce,
sendo quem quiser.
Quando adulto,
luta para aprisionar o menino.
Quando já velho,
lamenta não ter sido o que quis,
e de não ter ouvido aquele menino.
Que brincando ensinara-lhe,
o valor da existência.

André Gonçalves jardim

Riscos na Alma

Sinto-me hoje como um jarro,
destes de planta, que à noite botamos ao orvalho,
dependendo,
daquele que vê,
considerá-lo,
belo, feio...
Mas oco!
Apenas respiro, anseio e receio.
Apenas espero acuado.
A que ponto pode chegar à vida?
A que regalo pode ser a triste finda?
Que momento louco passo,
sinto algo de fé, sobrenatural,
só que parece que o destino é pérfido,
e torna-se infernal.
Que vida é essa que só maltrata?
Que vida é essa que destrata?
Que vida é essa que padece por sanção?
Que vida é vida?
Sinto-me preso sem ter o que penar!


André Gonçalves Jardim

Negrinho

Girando no carrossel em seu belo alazão,
o “êrê” diverte a multidão.
Brinda a todos com seu jeito faceiro,
inebria a áurea daqueles que como ele, não envelhecem.
Vacilante o espectro olha a cena e questiona-se:
qual vida não quer isso?
A que acostuma-se com a dor?
A que não quer ardor?
Aquela que não tem cor?
Damos todos risadas estridentes,
ouvidas a léguas dali,
levando luz ao mundo.
Sabe, vendo o menino correndo no campo imaginário,
nem lembro que o seu galope é limitado pelo brinquedo.
E junto vai minha existência.


André Gonçalves Jardim

Reverso

Sentado no degrau da escada,
que dá acesso à sala da casa,
fico pensando a que ponto minha vida está!
Sentado,
analiso o que fazer com a alma,
e o que poderia ser feito para mudar esta ópera!
Lástima!
Sentado,
saúdo um vizinho de porta,
só que este não tem o que me oferecer,
a não ser seu aceno,
droga!
Irei à arena,
lutarei pela minha vida.
Basta!

André Gonçalves Jardim

Reunião

Jesus,
sente-se ao meu lado,
Buda, já vem trazendo o vinho,
Oxalá providenciará os quitutes,
Adonai, é quem mais gosta!
Diga-me: porque sofreste tanto por redenção?
Valeu a pena?
Conseguiste o que procuravas?
Não sei,
é que de todos desta sala,
Tu foste aquele que mais sofreu!
Agora fala baixo,
estão lendo o Alcorão!
Depois vamos todos para a outra sala,
assistiremos à televisão,
e ficaremos horrorizados com o noticiário,
com medo de viver!
André Gonçalves Jardim

Primeiro Sonho

A menina sozinha fala,
brinca no fundo do quarto,
imaginando como será,
seu primeiro amor.
Corre pela casa,
querendo ser seu destino.
Esbarra na cômoda,
caindo desta o jarro de orquídea.
O barulho a faz despertar,
de sua embriaguez que finda.
Mas a sensação que fica é maravilhosa,
sendo mais valiosa do que o mundo!
Anoiteceu,
a mágica começa,
a menina dá lugar a uma bela mulher,
que agora ama.
Lembrando do primeiro olhar, da areia da praia...
Está feliz!
O destino trouxe-lhe rosas,
o destino deu-lhe o azul do céu,
o destino entregou-lhe a magia!
Hoje apaixonada, dá vida.
Quando volta à praia,
a brisa do mar,
acaricia sua alma,
o sonho agora atende por um nome,
que ela não cansa de gritar!
A felicidade deixa de ser abstrata!
E torna-se real!
André Gonçalves Jardim

Peregrinação

Abro uma porta,
saio do cômodo onde estou,
caminho por um corredor escuro,
e abandono a casa.
Deixo minha vida,
deixo minhas lembranças.
Entro no carro,
vou ao encontro não de um destino,
mas do incerto.
Não agüento mais promessas,
não agüento mais previsões.
Quero mudar.
Deixar de ser somente carne e osso,
e ter uma alma.
Olho pela janela,
vejo as pessoas passando,
cada vez mais rápidas,
tento esconder-me.
Minha alma ferida continua a peregrinação,
por lugares que trazem mudança.
Mas não sei como,
de tanto que já fui atingido,
já perdi meu rumo....
sentindo dor,
sentindo calor,
sentindo o suor,
corro por um vale de sombras.
Acho meu caminho e espero que seja a redenção!
André Gonçalves Jardim

Entre Quatro Paredes

O relógio me faz despertar,
não de um sonho.
Mas da realidade.
Quem está aqui não é o mesmo,
é um espectro.
É um espectro de uma vida.
Saio e ao fechar a porta fico em casa,
entre quatro paredes.
Aquele que sai, é quem desejam,
A alma que fica,
é o homem que está preso no prédio,
e a todo momento pergunto-me:
se não é dele de quem mais gosto?
André Gonçalves jardim

Pedalinho

A garota brinca no lago,
e o perigo é seu amigo.
A menina brinca no lago,
o perigo é sua testemunha.
A alegria sua algoz.
O mundo visto de uma ótica nova,
o mundo feroz e ávido de dor.
O ar falta-lhe,
a água é densa e teimosa.
Assim brincando, parte a guria,
que tão pouco do universo sabia,
que muito de vida tinha.
Segue teu caminho,
vá, segue teu rosário.
Espera, que já os seus entes irão
ao teu encontro!
Mas por hoje, estes te sepultam,
e calam-se, pois só a dor e ausência é que farão moradia.

Brilho no Céu

Cristo está no quadro,
nas igrejas,
o “cara” grita aleluia,
e depois estupra a menina.
Fim do ano chega,
mas nossa gente não encontra paz!
O homem na escada,
lava os pés,
não a alma.
Uma estrela cadente cai do céu à noite,
faça um pedido,
mas não lembre do que pediste,
pois talvez a estrela seja,
a que anuncia um novo evangelho!
André Gonçalves Jardim

Moinhos

Quando a luz é mais forte do que seus olhos,
é porque não tens dormido com anjos.
Oh amor! Do que será que falamos?
Oh amor! Será que há luz no fim do mundo?
Oh amor! Do que será que somos feitos?
Menina, olhe em volta...
Verás o belo,
o feio,
o humano.
Venhas... Beba vinho comigo!
Seremos um,
seremos todos,
seremos nenhum.
Junte-se às almas,
junte-se aos corpos.
E deixe a vida tomar conta de nossas essências!
André Gonçalves Jardim

Desejo.

Menina,
quando estarei lá,
perto de você?
Menina,
estou cada vez mais longe...
meus passos não me levam a ti.
Apenas insistem em fugir!
Nesta noite sonhe comigo.
Peça que eu te encontre.
E quando seu coração aceitar-me,
não haverá mais distância, prometo-lhe...
Levante as mãos,
para que possa ver-te.
Os sinais não estão claros!
Você sabe que estou imaginando!
Duvido que ainda lembras de mim.
A história mudou,
não somos mais os mesmos,
e acho que nunca fomos sinceros!
Não acredite em seus olhos,
agora dormirei.
Tentando sonhar com tudo que imaginei!
André Gonçalves Jardim

Corrente ao Mar

Quando fecho os olhos, e vejo a escuridão,
pergunto-me: será isso que quero?
Quando sinto o cheiro que vem do mar,
quando escuto o som da gaivota,
quando sinto a umidade do ar,
penso, sim é disso que preciso.
Minha alma clama por algo que não compreendo,
só que acredito ser esse o grande mistério.
Será que realmente devamos saber o que queremos?
Será que realmente nossas reclamações não seriam inúteis?
Procuro respostas e quanto mais as quero,
mais perguntas encontro!
Acho que é esse o grande “barato”.
O que realmente é maravilhoso, é o desconhecido.
Esse sim faz a diferença.
E não será preciso deixar moeda alguma para a grande travessia!


André Gonçalves Jardim